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domingo, 18 de outubro de 2009

Choques artísticos e filosóficos entrelaçados

O corpo parece ser uma prisão, da qual a filosofia, nos faz escapar - e não escolher entre uma natureza e outra para que alguma triunfe, mas, capacita o desenvolvimento pleno em todos os aspectos da existência - e também nos liberta: nos joga num aparente abismo rumo a algum lugar claro, onde possibilidades são mais que uma idéia vaga de imaginação.

Naquela noite, Artur foi apreciar o espetáculo circense que a poucos dias se instalará na cidade. Temia não saber mais como se divertir.
Sentou-se e viu a bela bailarina com seu colã brilhante subir até o trapézio. Será que essa era a vivacidade que faltava para alagar seus dias e seu humor seco? O que fazia alguém escolher fazer todos os dias algo intenso, enquanto ele, estressava-se em prol de algo vazio? Não entendia, temia entender.
É provável que o responsável por isso seja seu temor.
Nos bastidores daquela lona colorida, Arla preparava-se para sua apresentação e constata que o telefonema ao qual tanto esperou, que trouxe coragem ao seu próximo número, foi fruto de um cochilo. Na verdade ninguém a incentivou a arriscar-se
. Mas era uma necessidade implícita naquela trapezista.


Sou inundada com conjuntos de pensamentos e atitudes conectados que me fazem aspirar o saber. Inspirar, expirar, prender a respiração. E buscar uma verdade não para tranquilizar, mas, que em sua totalidade não se submeta ao mundo categóricamente previsível e talvez por isso limitado.

Arla nada via além do trapézio a sua frente e suas mãos ensaiando breves movimentos de dança formando a arte sequencial.
Enquanto isso, com olhos fitando a trapezista ao soltar
a mão do trapézio para depois se apoiar novamente, Artur percebeu que uma vibração fora do normal se expressou. Aqueles braços pareciam não mais alcançar o trapézio.
Espere!
A rede de proteção não estava mais lá!


Tudo é conectado. Somos uma grande rede de idéias, influenciados o tempo todo pelos mais diversos tipos de interação: entre o sensitivo e o racional, o individual e o coletivo. Ação e reação que não se neutralizam, mas que formam forças que se misturam mutuamente.

As luzes não tinham mais o mesmo brilho ofuscante, pareciam mais uma curva perturbadora de um terrível desfecho.
Arla estava caindo.
E cada milésimo de segundo que passara, parecia mais coberto de sentido. Sua coragem deveria ter sido o alimento de cada passo, cada pequeno vôo. Deveria ter sido a garantia de que qualquer obstáculo e tropeço teria fundamento. E que desistir não seria abandonar apenas seu espetáculo, mas sua energia vital. Sua paixão e entusiasmo que alimenta o pensamento. O poder de agir e não cessar nunca o desenvolvimento. De realizar-se, de dar sua marca a vida, de criar o seu destino.
Afinal, o show não pode parar.

Procuro o entendimento que seja mais que uma lanterna onde as pilhas logo acabam, procuro o entendimento que amplie minha visão. Que se submeta ao questionar e ao mudar, e isso faça minha razão aproximar-se do tão real quanto os sonhos. Sonhos que estabelecem uma comunicação entre os sentidos e o esquecido, o consciente e o inconsciente; tudo que for possível, aquilo que julgam impossível. Não por talvez ser capaz de tudo e realizar grandes coisas; mas, pela ambição de ter toda liberdade e capacidade de tentar.

Artur não desprezou a arte dos riscos. Foi embora como se fosse o ator principal de "Dançando na Chuva". Aceitou que para buscar a vida, não tem nada a perder. Que aquilo que causou o fim do espetáculo, e a cara de assustado nos palhaços, manifestou a coragem da verdade. A coragem de antes de dizê-las, pensá-las, de vê-las. De ser lúcido o suficiente para ser sincero em relação a si mesmo, de ver o que se vê e se perguntar o por quê.
Era essa a vivacidade que faltava para alagar sua existência, em tempos de extrema seca da humanidade.


Intento a inscrição de novos valores sobre novas tábuas. E a esse criar-se a si mesmo que dá valor aos atos, atos que só se justificam caso estiverem a serviço de uma verdade. Nada é um só, tão pouco é fragmentado por separações de extremos opostos. Somos, e tudo é uma mistura de conectividades. O pleno significado das coisas é, provavelmente, o resultado de toda esfera de respostas.