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sábado, 16 de janeiro de 2010

Eu, cérebro

Como é difícil ter um cérebro. Afinal, não é bem assim, só ter um cérebro e acabou. Não é um cérebrozinho qualquer que nós temos, o que temos é a melhor proporção de cérebro-corpo já conhecida. E, uau! Vibrem comigo: inteligência! E inteligência natural.
Começa a vir na minha cabeça - no cérebro - as desventuras de um cérebro em desenvolvimento. Aposto que todo mundo já teimou na infância que era célebro e não cérebro. Aí com o tempo, aprendemos as regras gramaticais - ou não - e célebro passa a soar mal, e não o contrário. E aprendemos, que essas generalizações do estilo "todo mundo" também não são lá tão boas. Porque um dia sofreremos com uma generalização, e vamos com toda a força explicar que "eu não", "eu não sou todo mundo"... E por aí vai. Ah, aprendemos também, que esse negócio que tem na cabeça de todo mundo não é só cérebro. É na verdade o encéfalo. E que com as devidas divisões, é composto por cérebro, cerebelo, ponte e bulbo. Cada parte, com sua função. A do cérebro é a inteligência, e é disso que estamos falando.
Aprender isso, aprender aquilo. O tempo todo é hora de aprender, de obter algum aprendizado daquelas situações de extrema ira, decepção, frustração, e deixando o pessimismo de lado, aquelas de êxtase, de alegrias... Enfim, nada que uma boa reflexão e uma carga de pensamentos não tire proveito. Aliás, aprender só pode ser coisa do cérebro. E mais, existem cérebros que aprenderam o processo de aprendizagem dos próprios cérebros. É incrível né?! O mais incrível, é que temos o dom de adquirir novos conhecimentos, assimilá-los, aplicá-los, desenvolvê-los, evolui-los, e tantas outras capacidades ocultas, porque não desvendamos todos os poderes de nossos cérebros.
O fato é que eu continuo achando muito estranho um cérebro pensar sobre ele mesmo, ou sobre outro. O que talvez, não seja tão estranho assim, porque nossos pensamentos são constantemente bombardeados pelos pensamentos de cérebros alheios. Uma interação cujo resultado pode proporcionar um aperfeiçoamento considerável, ou influências um tanto negativas.
Deveras, tem vezes que ter um cérebro, um cérebro capaz, com um enorme potencial, não parece ser suficiente. Bem, se as outras espécies tivessem uma capacidade de fala, como a que temos devido nosso cérebro, possivelmente me acusariam de ingrata com a evolução humana. É que agora que eu tenho um cérebro, eu tenho que fazer juz a ele. Preciso buscar utilizar todas as aptidões e idéias que conseguir, para entender mais, saber mais. Nosso cérebro nos fez a espécie dominante, e por uma questão individual e coletiva, somos os responsáveis pela manutenção desse planeta. Também somos os responsáveis por sermos algo, por atribuir tantas supostas responsabilidades, cumpri-las e esperar que sejam cumpridas, ou na maior parte das vezes, nos frustrar. Agora que eu tenho um cérebro, eu tenho que pensar. Na verdade, agora que eu tenho um cérebro, eu não consigo parar de pensar. Nem por um segundo, nem sonhando.
E aí tem aquela história de inconsciente. Sonhos, devaneios, fantasias. E tem o ego, o id, o superego... A psicologia, a filosofia, as neurociências... Ai, tanta coisa encantadora, que parece vaidade do cérebro querer saber tanto sobre ele mesmo, mas, é fundamental. Uma questão sobre vivência existencial. Aqueles dias, que você olha no espelho e não reconhece aquele rosto olhando pra você com cara de espantado. Ou lembrar de algo, ter um pensamento que faz franzir a testa, rir sozinho. E achar que ninguém pensa como você, ou que na história do mundo, todos já pensaram o que você pensou. Estas coisas acontecem com quem tem cérebro. Por fim, tenho certeza de ter vivido tudo que sonhei, imaginei, criei... Ouvi a música audível apenas aos meus ouvidos a dancei, dancei muito. Considerem insanidade, pra mim são os momentos de plenitude.
Pensar, pensar, pensar... E quase explodir de tantos choques que devem estar acontecendo nos neurônios do meu cérebro. Talvez, o pensamento sozinho, não percorre todos os caminhos estreitos do labirinto profundo que está nas partes a me compor. Não representa aquilo que manifesta intrísicamente, e mantém a diferença entre o que é e o que aparenta ser. Mas, isso se o pensamento for preso. Quando o cérebro com os pensamentos que produz e interliga, for um desbravador de limites, as desventuras se tornam aventuras intrigantes, e úteis.
Úteis? Úteis existencialmente falando. É o que temos, somos e onde nosso cérebro funciona. Funciona? Ou onde engana a si mesmo, subverte coerências, se justifica pelo miocárdio... É até clichê o seu mau uso, sua soberba. Isso que quando o cérebro é bem utilizado ainda causa graves crises de "por quês?". O que acontece, é que muitas coisas estranhas permeiam quem tem cérebro. Podemos chamar de enganos, incoerência, hipocrisia. O que esperar de cérebros que se manipulam com remédios, eufemismos, encontram desculpas para serem completamente instintivos, submissos as circunstâncias, precipitados, parciais, imediatistas, egoístas. É difícil lidar com esse tal de cérebro, que não vem com manual -é um cérebro que cria um manual, então seria interessante criarmos o próprio- portanto, temos a mágica possibilidade de escolher e decidir o que e como fazer com nossos cérebros. Isso significa que podemos mesmo errar, nos enganar, interpretar erroneamente. E/ou acreditar a vida inteira em teorias fantasiosas, na lei da gravidade, na matemática, no amor...
E me diz, o que um cérebro, capaz de proezas ironicamente ainda não pensadas, dentro de um crânio suicida, em meio a outros cérebros receosos do que pode descobrir, está fazendo nessa tal de vida? "Penso, logo hesito." E questiono coisas como: que negócio é esse de a todo custo sobreviver, em busca de um sentido pra tal sobrevivência? De onde vem essa esperança de encontrar algo, ou melhor, de ser alguém com atos justificáveis, com teorias secretas e comprovadas? E porque tanta culpa povoando o meu ser, ao saber que meu cérebro poderia ter sido mais eficiente?
Sem contar, os sistemas, culturas, tradições, conceitos, opressões, mitos, que tem de ser descontruidos colocando o cérebro e o resto de mim pra funcionar, e conseguir ser o conjunto das partes que me formam, tentando me desvencilhar do que não me permite construir o ser de um cérebro livre. Não, ter um cérebro não é fácil. Mas, sem dúvidas ter essa consciência - e tantas dúvidas - é melhor do que não ter.
Eu, cérebro, consigo me comunicar, dominar o fogo, escrever, ler, e estou tentando viver com o que me mantém viva. Indomávelmente buscando as respostas que acredito existir. Eu, cérebro, escrevo com um misto de orgulho e decepção, por conseguir e exigir sempre mais. Escrevo com os intensos pensamentos que estão aqui, e talvez não os consiga transmitir exatamente como são. Quem sabe, um cérebro realmente enlouquecido e complicado. Mas, um cérebro ativo em uma realidade surpreendente. Cada vez mais rico em aplicação de conclusões cerebradas.