C:\Users\Fala guri\Desktop\google45c75f9b8ec9581a.html

domingo, 19 de dezembro de 2010

Arquétipos Centrais de Jung e Relação com a Estrutura Psicológica na Visão de Frankl

1. Carl Gustav Jung

Carl Gustav Jung nasceu na Suiça em julho de 1875 e faleceu em 1961. Nestes 86 anos, o médico psiquiatra e professor universitário, esteve por muitos anos ligados à escola freudiana de Psicanálise. Contudo, desenvolveu seu próprio sistema de Psicanálise, após romper com Freud. Seu sistema de Psicanálise abrangia métodos para tratar pessoas com problemas psicológicos, além dos conceitos e formulações teóricas (HALL, C. S; NORDBY, V. J. 2005, pp. 22-23).

Médico, psiquiatra, psicanalista, professor, sábio, escritor, crítico social, homem do lar e cidadão – Jung foi tudo isso. Em primeiro lugar e acima de tudo, entretanto, foi um incansável estudioso da psique. Isto é, foi um psicólogo. E como psicólogo é que ele gostaria de ser lembrado e o será. Ele disse: “... a finalidade única da existência humana é a de acender uma luz na escuridão do ser.” (HALL, C. S; NORDBY, V. J. 2005, p. 23)

Como um dos pioneiros da investigação sobre a psique humana mais profunda, Jung esforçou-se para compreender o vasto e intrigante território do mundo interior. E, pode-se afirmar que seus estudos, do ponto de vista de se obter ricas surpresas e úteis descobertas, foram decisivos para o processo de transformação da visão geral de psicologia humana como impenetrável para sedutora (STEIN, M. 2006, pp. 11-12). Stein (2006, p. 12), dizia ainda: “Para Jung, o estudo da alma tornou-se também uma questão de grande importância histórica, visto que, como ele certa vez disse, o mundo inteiro está pendente de um fio, e esse fio é a psique humana. É vital que nos familiarizemos todos com isso.”

Nas abordagens de Jung à respeito de psicologia análica, ele representou sobre novas categorias simbólicas: os arquétipos (WHITMONT, E. C. 2000 p.15). Sobre a abordagem de Jung, Whitmont (2000, p.15), afirmava que “a totalidade da psique humana, da qual o consciente é apenas um aspecto, pode ser abordada cientificamente através da formulação de um sistema de elementos postulados cuja existência é deduzida a partir de dados observáveis.”

Enquanto, para a maioria das pessoas de nossos dias, a única abordagem compreensível da realidade baseia-se na definição de tudo através de conceituações literais, abstratas e impessoais, este desafio às faculdades intuitivas e emocionais e a confiança nelas constituem o caráter fundamentalmente novo da abordagem de Jung. Na realidade, ele julgava serem estas faculdades indispensáveis para uma vivência adequada da psique, pois é apenas através de todos os seus elementos que podemos tentar entendê-la. Esta abordagem abre novas portas, mas também levanta obstáculos potenciais para o iniciante nestes conceitos que até o momento não tenha tido nenhuma experiência pessoal nas profundezas das áreas inconscientes da psique. (WHITMONT, E. C. 2000 p.16)

1.1 Arquétipos Centrais

Além do ego individual, Jung atentou para estruturas universais da psique que são expressas em produtos criativos, sonhos e mitos. A partir da observação de si próprio, Jung constatou que estas imagens arquetípicas de nossa psique, são impessoais por haver conteúdos psíquicos que não foram adquiridos durante a vida pessoal, mas que possuem motivos definidos que surgem de todos os lugares e são inerentes à organização da nossa estrutura psíquica. e formam o inconsciente coletivo (TABONE, M. 1995, pp. 112-113).

Para Jung (1978), os mitos são fundamentais para se compreender a espécie humana, pois através deles é que acontecem as manifestações dos arquétipos, isto é, modelos advindos do inconsciente coletivo da humanidade que constituem a base de formação da psique humana. Os arquétipos têm como função revelar atitudes dos homens, dar uma significação ao mundo e à existência humana. (BRAZ, A. L; 2005, p. 64)

O arquétipo é uma das manifestações da energia psíquica que se torna visível por meio de uma imagem arquetípica ou se evidencia nos comportamentos externos, principalmente os que expressam as experiências mais básicas e universais da humanidade (nascimento e morte, casamento e separação, maternidade, paternidade, criatividade) (GRINBERG, 2003, p. 222 apud CICUTO, 2009 p.23).

Seria, desta forma, o arquétipo, uma representação imagética de energia psíquica, prévia em nosso interior, compondo o conteúdo do inconsciente coletivo.

O processo criativo consiste (até onde nos é dado a segui-lo) numa ativação inconsciente do arquétipo e numa elaboarção e formalização na obra acabada. De certo modo a formação da imagem primordial é uma transcrição para a linguagem presente pelo artista, dando novamente a cada um a possibilidade de encontrar o acesso às fontes mais profundas da vida que, de outro modo, lhe seria negado ( JUNG, C. G; 1971. p. 71).

1.1.1 Persona

Persona é a pessoa-tal-como-apresentada, mas, não como real. É uma construção psicológica e social adotada para, segundo a teoria de Jung, se rlacionar com o desempenho de papéis na sociedade (STEIN, M. 2006 p.102).

A persona diz respeito principalmente ao que é esperado socialmente de uma pessoa e à maneira como ela acredita que deva parecer ser. Trata-se de um compromisso entre o indivíduo e a sociedade (GRINBERG, 2003, p. 142 apud CICUTO, 2009, p. 24).

A personalidade de um ser é complexa, e a medida que passamos a nos construir, conforme os produtos dos processos que vivenciamos, forma-se nossa persona (STEIN, M. 2006 p.101).

A origem do conceito jungiano de persona é a noção de prosopon, com a qual se designa no teatro grego a máscara que os autores usavam para encarnar uma personagem. A partir de Jung, o conceito de “persona” significa mais precisamente o eu social resultante dos esforços de adaptação realizados para observar as normas sociais, morais e educacionais do seu meio. A persona lança fora do seu campo de consciência todos os elementos – emoções, traços de caráter, talentos, atitudes – julgados inaceitáveis para as pessoas significativas do seu meio. (OCAÑA, E. M. 2008, pp. 4-5)

No âmbito psicológico, a persna é como um complexo funcional, com considerável autonomia – sem total domínio do ego, e que pode tanto revelar quanto esconder pensamentos e sentimentos conscientes de um indivíduo à outro (STEIN, M. 2006 p.101).

A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo (JUNG, 2006, apud CICUTO, 2009, p. 24).

1.1.2 Sombra

Sobre o conteúdo da sombra, aquilo que a consciência do ego rejeita, transforma-se em sombra. É assim caracterizada por traços e qualidades incompatíveis com o ego consciente e a persona. A sombra, é algo se assemelha a uma contra-pessoa, ou seja, pode ser pensada como o oposto, aquilo que a persona não permitirá ser. (STEIN, M. 2006 pp.98-101).

Quaisquer partes da personalidade que normalmente pertenceriam ao ego se estivessem integradas, mas foram suprimidas por causa de dissonância cognitiva ou emocional, caem na sombra. (…) De modo geral, a sombra possui uma qualidade imoral ou, pelo menos, pouco recomendável, contendo características da natureza de uma pessoa que são contrários aos costumes e convenções morais da sociedade (STEIN, 2006, p. 98).

1.1.3 Anima/Animus

Anima e animus, são formas vitais básicas, representadas como uma hipótese de algo que existe mas não pode ser observado diretamente, justamente por estar no interior da psique, revestido pelas formas materiais. No entanto, se assemelham a imagens culturais conhecidas e unidas em mulheres e homens (STEIN, M. 2006 pp.116-118).

Quando os arquétipos de anima e animus são devidamente reconhecidos pelo ego, vão contribuir para uma maturidade psíquica. Eles são responsáveis pelas qualidades das relações com o sexo oposto, e enquanto eles são inconscientes, esses arquétipos aparecem sob a forma de projeção. (…) A primeira projeção do animus (o aspecto masculino da mulher) é na figura do pai ou de um irmão. E a primeira projeção da anima (o aspecto feminino do homem) é na figura da mãe ou de uma irmã.(CICUTO, 2009, p. 27).

Em parte, é a complexidade de o ser não ser nem homem nem mulher, e ao mesmo tempo ter características tradicionais masculinas e femininas que trás Jung, na concepção teórica de anima e animus.(STEIN, M. 2006 p. 124)

Essa relação psíquica de oposição e complementaridade é conhecida há muitos séculos pela psicologia oriental, expressando-se no símbolo do TAO (oposição e a complementaridade entre os princípios yin – yang) (RAMOS, 2002, p.127 apud CICUTO, 2009, p. 33).

1.1.4 Eu profundo

Para começar a estudar o arquétipo do “eu profundo”, é preciso tratar de uma questão de termos. Stein (2006, p. 138) fala que “O típico uso do termo “si mesmo” (o self inglês) dificulta a apreciação do que Jung está objetivando em sua teoria.”. Isso porque, Jung não quer se referir absolutamente a si mesmo, pois é mais do que a subjetividade do ser de que se trata, mas sua essência, que situa-se além do domínio subjetivo. No si-mesmo, se forma a base para aquilo que existe no sujeito em comum com as estruturas do Ser e com o mundo, é onde unem-se num campo comum de energia e estrutura, de ego e o outro e de sujeito e o objeto. (STEIN, M. 2006 p. 138)

Por fim, temos o Self (Si – Mesmo, Selbst) que é o arquétipo central e regulador do psiquismo. É a totalidade psíquica, integrando todos os arquétipos e característica ao seu redor. Jung (1986, p. 29) afirma que “o conceito de totalidade (...) é hierarquicamente superior à sizígia (anima/ aminus) e à sombra, mas mantém uma relação com estes já que a sizígia representa simbolicamente a união dos opostos”, condição indispensável à individuação. Sendo o “núcleo mais profundo da psique”, o Self é expresso simbolicamente em sonhos, contos, histórias, etc, sob diferentes formas. Na mulher pode surgir como uma figura feminina superior como uma sacerdotista, uma feiticeira, etc. No homem, como um guru, um velho sábio, etc. além disso pode aparecer sob a forma de um ser gigante que contém em si todo o universo, sob seres bissexuais, animais sagrados, uma pedra preciosa (como a pedra filosofal da alquimia, lapis philosophorum), etc. Ele pode se manifestar em nossos sonhos, nos momentos críticos e que devemos tomar importantes decisões ou períodos de transição. (VON FRANZ, 1964, p. 196 apud LIMA, 2004 p.3).

2. Viktor Emil Frankl

Viktor Emil Frankl (1905-1997), nasceu em Viena e foi um ex-discípulo de Freud e Adler. Frankl era judeu e viveu três anos num campo de concentração, sendo assim, o primeiro psicólogo a viver e sobreviver num campo de concentração, mesmo em cativeiro e trabalhando em benefício dos judeus. Criou a 3ª Escola Vienense de Psicoterapia, a Logoterapia. (GOMES, J. C. 1992, pp. 9-11)

Onde quer que Frankl vá, milhares de profissionais se arrebanham e ficam encantados com a nítida e cristalina proposta de humanização das psicoterapias, pois estas, em geral, acreditam que o ser humano é determinado, condicionado pelo meio ou impulsionado, mas não livre para assumir a resposabilidade pela vida. (GOMES, J. C. 1992, pp. 11-12)

2.1 Estrutura Psicológica

Segundo Frankl, o ser humano, é um ser que busca um sentido para sua vida, e acreditava que o homem estava no mundo em busca do poder e da conquista da superioridade. Com isso, nasce a logoterapia, uma tentativa de humanizar as psicoterapias. (GOMES, J. C. 1992, p. 11)

Frankl (2008, p.27), afirmava que a logoterapia, é “uma terapia que ousa penetrar na dimensão especificamente humana.” Considera a busca de encontrar um sentido de vida e “na medida em que a logoterapia o conscientize do logos oculto de sua existência, trata-se de um processo analítico.”

É necessário reconhecermos duas teses apontadas por Frankl para compreendermos a categoria do psíquico como categoria antropológica. Uma referente à relação plano psíquico x plano espiritual; outra referente à relação sofrimento somático (direto) x sofrimento psíquico (indireto). É nessas relações que perceberemos a caracterização do ser humano como capaz de ir além de si, dirigindo-se a algo ou alguém diferente de si, na medida em que se mostra capaz de suportar suas próprias “dores” e fraquezas. Frankl assim denomina: “Ser homem necessariamente implica uma ultrapassagem. Transcender a si próprio é a essência mesma do existir humano”. (FRANKL, 1990, p.11 apud MOREIRA, J. O; ABREU, A. K. C; OLIVEIRA, M. C. 2006, p. 4)

3. Relação Entre as Filosofias dos Autores

Ambos os autores iniciaram seus estudos psicológicos como seguidores de Freud, e romperam à medida que discordavam, ou enfocavam seus estudos em outras áreas.

Ao romper com teorias de Freud, Jung foi o grande precursor do movimento Transpessoal. E Frankl foi um dos grandes nomes da psicologia a oficializar, e enfocar o estudo da Psicologia Transpessoal na consciênica e reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique.

Jung, em seus estudos, afirmava que que a religiosidade, não é um sintoma de neurose, mas é até, um meio de cura, pois afirma já estar fundada na psique humana. E a logoterapia, da qual Frankl foi fundador, afirma que o todo da realidade, inclui a dimensão sobre-humana, e diz que é lá que reside o sentido último da existência, entendendo a religião como a busca do homem por um significado.

Frankl (2008, p. 129) por ver a psicanálise, como um instrumento que considera o ser humano um “ente, que precisa de um sentido e não uma mera gratificação e satisfação de impulsos e instintos, ou na conciliação de id, ego e superego, ou na mera adaptação e ajustamento à sociedade e meio ambiente.” De maneira que o ponto principal de sua filosofia, é a concepção de que somos um ser profundo, por querer saber e buscar o sentido mais profundo da vida.

E Jung, por estudar profundamente os arquétipos, e discorrer sobre o Eu Profundo (self), considerando este o arquétipo central, por ter uma dimensão na estrutura do inconsciente que abrange todos os outros arquétipos do inconsciente coletivo de toda humanidade. E afirma Jung (1978) que “os arquétipos têm como função revelar atitudes dos homens, dar uma significação ao mundo e à existência humana.”

Se complementam à medida que investigam o ser humano, estudando a significação e a busca por significado do mundo e da existência humana.

5. Referências

BRAZ, A. L. Origem e significado do amor na mitologia greco-romana. Estudos de Psicologia. Campinas. 22(1), janeiro - março 2005. p. 63-75.

CICUTO, K. M. As Bússolas do Tao e de Jung: Caminhos para se Alcançar o Todo. 2009. 45 p.(Trabalho de Conclusão de Curso) Curso Técnico de Massagem, Instituto de Terapia Integrada e Oriental. São Paulo, 2009.

FRANKL, V. E. Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. 25ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes. 2008.

GOMES, J. C. Logoterapia: A Psicoterapia Existencial Humanista de Viktor Emil Frankl. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola. 1992.

HALL, C. S; NORDBY, V. J. Introdução à Psicologia Jungiana. 8ª ed. São Paulo: Cultrix. 2005.

JUNG, C. G. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis, RJ: Vozes, 1971.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2ª ed. Petróplois, RJ: Vozes. 2000.

LIMA, R. F. Arquétipos e Desenvolvimento Psíquico. Symbolon – Estudos Junguianos. Curitiba, PR. 2004.

MOREIRA, J. O; ABREU, A. K. C; OLIVEIRA, M. C. Estrutura da Personalidade em Frankl: Introdução aos conceitos de psíquico, espírito e liberdade. Rev. Ciências Humanas, Taubaté, v. 12, n.1, p. 51-60, jan./jun. 2006.

OCAÑA, E. M. A Sabedoria de Integrar a Sombra. Lisboa: Fundação Betânia. 2008.

STEIN, M. Jung: O Mapa da Alma: Uma introdução. 5ª ed. São Paulo: Cultrix. 2006.

TABONE, M. A Psicologia Transpessoal – Introdução à nova visão da Consciência em Psicologia e Educação. 4ª ed. São Paulo: Cultrix. 1995.

WHITMONT, E. C. A Busca do Símbolo – Conceitos Básicos de Psicologia Analítica. 4ª ed. São Paulo: Cultrix. 2000.

ZACHARIAS, J. J. de M. Tipos: A Diversidade Humana. São Paulo: Vetor. 2006.



Daiana Cristina Rauber - Fundamentos Filosóficos e Epistemológicos da Psicologia. I Período de Psicologia.

Nenhum comentário: