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domingo, 19 de dezembro de 2010

Pescador de Ilusões - Análise do Filme

Pescador de Ilusões

Contexto

Pescador de Ilusões é um filme produzido em 1991, dirigido por Terry Gilliam, nos Estados Unidos da América. A trama se apresenta num meio urbano – cidade de Nova York – por volta da década de 80. Retrata algumas instituições, meios de comunicação, modos de vida e outros aspectos da sociedade contemporânea. Os capítulos estão organizados, de forma geral, a mostrar inicialmente a vida dos personagens antes de um assassinato e em seguida, compreendendo a maior parte do filme, as mudanças que ocorrem devido a este fato.

Relações de Poder

As relações existem toda vez em que algo não pode dar conta de sua existência sozinha. É troca, comunicação. Mas, nem sempre é algo que une ou ligue duas coisas, conflitos e exclusão, também são exemplos de relações. Além disso, instituições, grupos, comunidade também estabelecem relações. O poder também pode ser entendido como relação, sendo uma prática em que tiro, exproprio o poder (entendendo como capacidades, recursos, qualidades) de outros ou, coloco o meu poder a serviço de outros. (GUARESCHI, P. 2009)

Cenas do Filme

Cena 1:

15min 30’ – Jack embaixo de uma estátua, conversando com o boneco Pinóquio que acaba de ganhar de uma criança:

- Já leu Nietzsche?

- Ele disse que há dois tipos de pessoa. Gente destinada à grandeza, como Walt Disney e Hitler. E há o resto, nós. Ele nos chamava de malfeitos e remendados. Ficamos empolgados, às vezes quase nos tornamos grandes, mas nunca conseguimos. Nós somos bucha de canhão. Empurram-nos diante de trens, nos envenenam com aspirinas, somos mortos em supermercados. Sabe o novo título da minha biografia, meu amiguinho? “Não era uma festa - A história de Jack Lucas.” Gostou? “Uma droga de festa Nouveau.”

(...)

Cena 2:

17 min 30’ – Jack na beira do rio, até que chegam dois homens:

- O que há? Perguntei o que há? O que faz aqui cara?

Enquanto batem em Jack.

- Não deveria estar nesse bairro!

- Estava indo embora.

- Investem dinheiro suado aqui. Não é justo. Olham pela janela para ver vocês dormindo na rua.

- Concordo. Ótimo, muito bem.

- Acredita neste bêbado? Nem eu! Jogue!

E jogam gasolina em cima de Jack.

Reflexão

A partir do conceito de relações de Guareschi (2009), podemos identificar exemplos de relação de poder nas cenas acima descritas, uma vez que o poder seja conceituado como serviço, expropriação do outro.

Na cena 2, podemos observar que há uma relação de expropriação de poderes inicialmente de maneira indireta, quando se caracteriza o personagem como um mendigo, e com isso entende-se que dorme na rua e então não merece estar naquele espaço territorial, não é seu espaço.

Na cena 1, há uma relação de poder que se dá pela expropriação do poder simbólico. No caso da cena, um personagem perde o seu estereótipo positivo, ao perder o seu emprego, que era a fonte de seu capital simbólico e status social.

Práticas Culturais

Cultura sempre possui uma origem, uma história. Criações simbólicas (símbolos que contêm sentidos que só podem ser interpretados dentro de determinados referenciais) constituem o cerne da cultura. Criações sociais e simbólicas são então, relações humanas solidificadas, institucionalizadas que todos os grupos sociais criam e se legitimam por eles. (GUARESCHI, P. 2009)

Cenas do Filme

Cena 1:

1min 30’ – Cena no rádio, conversa entre locutor e ouvinte:

- Diga a quanto tempo você e o senador Payton estão tendo essa caso vulgar? Isso é ótimo.

- É revoltante. Estou cansada dessa invasão de nossa vida privada.

- Você transou com um senador no estacionamento do Sea World. E ainda quer privacidade? Não, você é a nossa celebridade! Queremos saber o que aconteceu nas limusines. E sobre as vidas arruinadas que invejamos. Novos usos das rolhas de champanhe.

- Já fui bastante humilhada!

- Talvez não queremos os detalhes!

- Você é um porco Jack.

Cena 2:

1h 20m – Anne arrumando a Lenny

- Alguém especial em sua vida?

- Pareço ter alguém especial na vida?

- Não fale assim. Não é uma idéia tão absurda. É saudável, trabalha e não é vesga nem nada.

- Não, não há ninguém especial.

- Está bem. Ótimo.

- Não é fácil hoje em dia e com essa idade?

- O que?

- Conhecer pessoas.

- Namoro a mais tempo que dirijo. Não acredito.

- Eu nunca namorei ninguém.

Reflexão

A partir do conceito de Guareschi (2009), acerca de práticas culturais, podemos observar na Cena 1, uma estratégia cultural sutil, como a do acordo comum de que senadores são pessoas de uma faixa econômica privilegiada, que dirige limusines, bebe champanhe, ou seja, apresenta determinados sinais de distinção de outras pessoas, assim, este hábito cultural prende tanto quem observa quanto quem faz parte deste grupo.

Já na Cena 2, podemos observar aspectos como alguns rituais culturais que se instituíram próprios para o namoro, por exemplo. No qual se inicia com a preparação para o encontro, à medida que ela se arruma especialmente para tal ocasião, ou a subordinação aos imperativos da beleza padrão. Ou ainda, o fato de ser um encontro armado às escondidas.

É possível perceber também a dinâmica das práticas culturais que vão se modificando com o tempo, como a presente na cena 2, que aos poucos vão adquirindo componentes diferentes, ou como na cena 1, um aspecto que continua essencialmente presente na sociedade atual.

Ideologia

Há muitas definições de ideologia, que pode ser entendida como uma prática ou estratégia que cria ou reproduz relações desiguais, injustas, de dominação. Conforme Guareschi (2009, p. 77) “John B. Thompson, talvez o autor que melhor discute ideologia, a define como sendo o emprego (a prática) de formas simbólicas para criar e reproduzir relações de dominação.”

Cenas

Cena 1

1min 30’ – Cena no rádio, conversa entre locutor e ouvinte:

- Diga a quanto tempo você e o senador Payton estão tendo essa caso vulgar? Isso é ótimo.

- É revoltante. Estou cansada dessa invasão de nossa vida privada.

- Você transou com um senador no estacionamento do Sea World. E ainda quer privacidade? Não, você é a nossa celebridade! Queremos saber o que aconteceu nas limusines. E sobre as vidas arruinadas que invejamos. Novos usos das rolhas de champanhe.

- Já fui bastante humilhada!

- Talvez não queremos os detalhes!

- Você é um porco Jack.

Cena 2

37min Anne conversando com Parry

- Sabe de uma coisa? Eu me sinto amaldiçoado.

- Deixe disso! As coisas vão mudar.

- Parece que atraio encrenca. Com tanta gente, conheci justo o marido de alguém que matei.

- Não matou ninguém, pare com isto.

- Queria poder apenas pagar a multa e ir embora.

Reflexão

As estratégias ideológicas podem ser vistas nas cenas acima descritas:

A cena 1, nos mostra como a ideologia é utilizada como legitimação de um determinado grupo social. Os senadores, pela posição que ocupam no cenário social, são detentores de, a exemplo da cena, carros e um padrão de vida luxuoso, que já é tão enraizado, que faz parecer que uma coisa legitima a outra.

A cena 2, traz a questão da naturalização, onde parece que já é determinado que o dinheiro pode trazer a redenção frente à um arrependimento. O que parece é que não é cultural, mas que não há possibilidade contrária para a vida na sociedade senão a que valoriza acima de tudo os bens econômicos, então na medida em que se encontra um grupo que está excluído deste sistema, fica difícil a ação. Uma estratégia que mantém a situação de dominação do capitalismo, por exemplo.

Comunicação

Conforme Guareschi (2009, p. 82) citando Serge Moscovivi “o objeto central e exclusivo da Psicologia Social, deve ser o estudo de tudo o que se refira à ideologia e à comunicação, do ponto de vista de sua estrutura, sua gênese e sua função.” Uma vez que, ainda segundo Guareschi (2009) a comunicação é uma parte que está relacionada com qualquer instância social. Além disso, a comunicação constrói a realidade. (GUARESCHI, P. 2009)

Cenas do Filme

Cena 1:

0min45’ – No rádio:

- É segunda feira de manhã, e eu sou Jack Lucas.

- É sobre meu marido.

- Ele me deixa louca. Quando falo, ele nunca me deixa terminar uma frase.

- Sempre completa...

- Suas idéias. É horrível.

- Isso me deixa...

Deixa-a louca. É um cretino.

- Jack você... acertou...

- Acertei na mosca.

Cena 2:

8min05’ - Repórter na televisão:

- Jovens profissionais vão ao Babbit’s depois do expediente. Edwin Malnick chegou na hora de pico, às 19h15, deu uma boa olhada nas figuras interessantes da cidade, tirou uma arma do casaco e abriu fogo. Sete pessoas foram mortas antes de Malnick apontar para si e dar um tiro na cabeça. Assessores de Jack Lucas apresentaram seus sentimentos, mas não comentaram nada. Segundo vizinhos, Malnick era quieto e vivia só. “Mal o notávamos”, disse uma mulher, vizinha dele há 11 anos. Mas, hoje, poucos se esquecerão desse solitário que só conhecia o mundo pelo do rádio, que procurou amizade e encontrou dor e tragédia. Marc Saffron, Jornal do canal 7.

Reflexão

É possível perceber a conceituação de comunicação de Guareschi (2009) nas duas cenas, que exploram dois típicos meios de comunicação: a rádio e a televisão. Mais do que isso, a primeira cena nos mostra o rádio expondo a vida privada, sendo que a mídia um meio que se afirma à medida que cria costumes, relações, linguagens, expectativas. A comunicação tem sua função principal em criar e reproduzir a realidade, exercendo grande papel na vida das pessoas.

Podemos observar na Cena 2, o que Guareschi (2009) chama de “um novo personagem dentro de casa”. Podemos também estender a reflexão, uma vez que a mídia pode ser entendida como produtora de referencial simbólico regularmente mantido nas pessoas, que reflete o cotidiano, são também os meios de comunicação que possuem grandes ‘poderes’ na esfera midiática e que refletem o afastamento e a individualização presente na sociedade em que vivemos.

Representações Sociais

A representação social é um tipo de imagem compósita, vários referenciais, de conhecimento coletivo reificado que se aplica no conhecimento consensual.

Cenas do Filme

Cena 1:

58min 30’ Jack e Parry no Central Park

- Estamos em Nova York. Ninguém pode ficar nu aqui.

- É demais, é libertador. O ar no corpo, os mamilos duros, a coisa balançando!

- O que há? Está me irritando.

- Pelados bem no meio do parque!

- Não vou fazer isso, é loucura!

- Vou embora.

- Liberte-se!

Cena 2:

24min30’ – Parry e Jack na casa de Parry

- Adivinhe quem sou?

- Me deu branco.

- Adivinhe. Não falem!

- Deve ser um tipo de vigia.

- As vezes, tenho essa função, mas vou dar uma pista!

Parry segura uma espada.

- Acessório de mendigo.

- Sou um cavaleiro. Em missão especial. E preciso de ajuda.

Reflexão

A representação social se apresenta nas cenas descritas, como por exemplo, na cena 1, que apresenta a migração do saber jurídico de que é contra a lei ficar nu em locais públicos, para o senso comum do personagem que diz que tal feito é loucura, em uma espécie de aceitação de que as regras jurídicas ‘científicas’ precisam ser cumpridas sem questionamento, instalando-se no senso comum.

Enquanto na Cena 2, aparece no personagem os referenciais que ele têm, por sua trajetória enquanto professor de história, e que se instalam no seu modo de vida atual, no qual, considera ser um cavaleiro na busca do Graal. Reificando, assim, o conhecimento científico que por muitos anos teve contato, vivenciando-o.

Referências

GUARESCHI, P. Psicologia Social Crítica: como prática e libertação. 4 ed. rev. ampl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009.

Pescador de Ilusões. Terry Gilliam. Estados Unidos: Columbia Pictures Corporation. 1991.


Daiana Cristina Rauber - Psicologia Social. II Período de Psicologia.

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