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domingo, 19 de dezembro de 2010

Razão, Ser Humano e Comportamento Segundo a Filosofia Cartesiana

Conhecido como o fundador da filosofia moderna e o pai da matemática moderna, René Descartes, filósofo e matemático francês, foi uma das figuras chaves para a ciência moderna.

René Descartes é usualmente considerado o fundador da filosofia moderna. Era um brilhante matemático, e sua perspectiva filosófica foi profundamente afetada pelas novas física e astronomia. Ele não aceitava qualquer conhecimento tradicional, propondo-se a construir um novo sistema de pensamento. De acordo com Bertrand Russel, “isso não acontecia desde Aristóteles, e constitui um sinal da nova autoconfiança que resultou do progresso da ciência. Há em sua obra um frescor que não se encontra em qualquer outro filósofo eminente anterior, desde Platão”. (CAPRA, Frijot. 2006, p. 52).

De acordo com Neves (2008, p.119), Descartes, nasceu em 31 de março de 1596 na cidade de La Haye, na provincia francesa de Jouraine.

“Descartes decidiu então viajar pela Europa - tal como Sócrates, que passou a vida em diálogo com homens de Atenas. Ele próprio relata que a partir dessa altura só queria procurar o saber que podia encontrar em si mesmo ou "no grande livro do mundo". Por isso, entrou para o exército e pôde permanecer em diversos locais da Europa Central. Mais tarde, passou alguns anos em Paris. (GAARDER, Jostein. 1995 p. 154).

Ainda segundo Neves, em 1619, durante uma viagem pela Alemanha, teve três sonhos que revelaram os “fundamentos de uma ciência considerável”, projetos de uma reforma do saber, especialmente em matemática. No ano de 1628, durante uma temporada que passou em Paris, expôs pela primeira vez uma “regra universal” ou um “método natural”. Em 1629, empreendeu uma física completa, que será o “Tratado do mundo” juntamente com o “Tratado do homem”. Sete anos mais tarde, em 1636, termina a redação de “O Discurso do Método” e, em um ano depois, termina a impressão da obra. No ano de 1641, em Paris, publica a obra “meditações de filosofia primeira”, onde é demonstrada a existência de Deus e a imortalidade da alma. Em 1643, Descartes envia uma carta discordando da publicação de Martin Schook, que afirmava que a filosofia cartesiana conduz ao ceticismo, ao ateísmo e à loucura. Em 1647, René Descartes publica “Meditações metafísicas”. Em novembro de 1649, publica “As Paixões da Alma” sua mais importante contribuição à fisiologia e à psicologia. E no dia 11 de fevereiro de 1650, Descartes morre de pneumonia em Estolcomo, cidade que hoje é considerada o centro cultural, político e econômico da Suécia .

O método de Descartes, bastante difundido por sua famosa obra o Discurso do Método, propõe um modelo para conduzir o pensamento humano, de uma forma quase matemática, pois esta era uma ciência que o agradava, enquanto a filosofia escolástica o decepcionava e não conduz a nenhuma verdade indiscutível, pois, como Descartes afirma (2008, p.40): “me vi embaraçado em tantas dúvidas e erros que me pareceu não ter tirado outro proveito, ao tratar de instruir-me, senão descobrir cada vez mais minha ignorância”. Seguindo com estes pensamentos, Descartes em seu Discurso do Método, sugeriu uma linha geral de um novo sistema filosófico e científico composto por quatro preceitos a serem seguidos: o primeiro é a evidência: nunca aceitar como verdadeira algo que se pudesse, de alguma forma, questionar a veracidade. O segundo é a análise: fragmentar as dificuldades em quantas vezes fosse necessário para melhor resolvê-las. O terceiro é a síntese, e se remete a maneira de organizar o pensamento, afirmando que é necessário estabelecer uma ordem, que vai do mais simples ao mais complexo, para evoluir pouco a pouco no conhecimento, da mesma forma que se sobe uma escada: um degrau de cada vez. Por fim, como Descartes (2008, p. 55) afirmava, “faze em toda parte enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir”. Desta forma, seria impossível que houvessem interferências externas que nos fazem confundir o verdadeiro com o falso.

Descartes (2008) baseava-se na eficácia da razão, visto que todos os homens a possuem de igual maneira, e o que os difere são suas opiniões de acordo com as interferências externas do seu ser, como cultura, costumes, religião, conhecimentos adquiridos e o que recebeu como concepção de verdade. A racionalidade, então, se dá quando não se utiliza evidências dos sentidos e da forma empírica, pois são evidências passíveis de engano, enquanto a razão permite ter idéias claras e distintas. Como Descartes procurava o avanço da ciência, utilizava a razão para conhecer e assim ter domínio sobre elas, já que, segundo ele, é a razão que conduz às verdades universais. Contudo, devemos atentar e pensar sobre o que diz Filho (1994, p. 15) “Mas se as idéias sensíveis e imaginativas não satisfazem aos critérios da razão e devem ser controladas pela própria razão, desempenham ainda algum papel no sistema cognitivo? Em outras palavras, se o claro e distinto são o sinal da verdade, qual é a função do obscuro e do confuso?”

Uma das mais célebres frases de Descartes, Je pense, donc je suis, citada em latim como cogito ergo sum, e traduzida como “penso, logo existo”, trás a idéia de que através da razão o homem se descobre como ser. Esta descoberta, de acordo com Descartes, é feita através da investigação racional e radical de tudo aquilo que se possa ter conhecimento. A radicalidade, pode também ser observada no discurso de Descartes sobre a moral provisória onde devido ao convívio com outros humanos e a continuidade da vida enquanto pensamentos se formam, prega o bom senso, alcançado pela racionalidade, mas, desobriga a submissão cega e, principalmente, postula a mudança e a liberdade ao ser humano, pois só assim se faz possível a evolução de idéias, conceitos e do ser em si. E sendo necessário esse questionamento, a dúvida existe. Se a dúvida existe, existe também o pensamento e eu que duvido, penso. E se ao duvidar penso, e pensando me reconheço como ser, sou, e se sou, existo ao menos como ser pensante. Mas, reflitamos, o que é um ser pensante?

A filosofia para Descartes era prática, acreditava na vivência da filosofia. Afirmava que viver sem filosofar, era como ter os olhos fechados, sem jamais abri-los; mesmo que essa comparação do prazer de ver todas as coisas que nossa visão descobre não é comparável à satisfação que nos proporciona o conhecimento que descobrimos pela filosofia.

Destarte, tal conhecimento é utilizado como base para nossas ações. Então, Descartes desenvolveu as “Regras para direção do espírito” no qual estabelece 21 regras que são fonte importante para compreender as idéias de método, conhecimento e verdade, pois expõe com clareza os principais pontos do pensamento cartesiano e seu programa para a ciência, caracterizando-se como uma obra metodológica. Com isso, Descartes buscava satisfazer três condições: dar a todas as ciências o mesmo método; partir do mesmo princípio; assentar no mesmo fundamento. Só assim se poderiam unificar as ciências. Nesta obra, fica também evidente a vocação prática da filosofia cartesiana, posto que a busca pela verdade afigura-se como tentativa de asseguramento de um conhecimento que pode ser voltado à boa condução da vida. É a comprovação de que o seu tratado é útil na prática da razão, como uma atividade libertadora, voltada contra qualquer dogmatismo, devendo assim, permear todos os dominios da vida humana.

Numa época de muitas guerras religiosas, onde pessoas eram dominadas por ideias, e ideais alheios, Descartes negou tudo que sabia, questionou seus próprios sentidos e começou do zero. Utilizando de um método quase que matemático, analisando tudo o que fosse possível, de forma a pormenorizar seus pensamentos com o objetivo de alcançar o mais alto grau de conhecimento que a brevidade de sua existência o permitisse. Não sendo assim, as percepções sensíveis o fundamento do seu conhecimento, mas a racionalidade, manifestada como procedimento de investigação para que algo possa ser comprovado. Descartes afirmava que nenhum objeto de pensamento resiste à dúvida, mas o próprio ato de duvidar é indubitável, argumentando que da indubitabilidade da experiência do pensamento, extrai-se a indubitabilidade da existência de alguém que pensa. Comprovando a existência humana através da dúvida, e ironicamente, através indubitabilidade da consciência do ato de pensar. Fazendo isto não como recurso de alienação para as outras facetas além da mente do ser humano, mas, como forma de criticar e questionar a falta de certezas provenientes do mundo exterior, a necessidade de questionamento, aplicar bem o que é naturalmente igual a todos e promover e contemplar a atividade libertadora do filosofar como procura e exercício da verdade, justificando suas ações para o fim de existir como ser pensante.


Daiana Cristina Rauber - Fundamentos Filosóficos e Epistemológicos da Psicologia. I Período de Psicologia.

Produzido junto com: Andressa Martins de Oliveira, Heidi Janke Subi, Jéssica Utyama de Carvalho, Larissa Holetz Teixeira da Silva, Thuane Michelin Pinto.


Referências

CAPRA, Frijot. O Ponto de Mutação A Ciência, A Sociedade e a Cultura Emergente. São Paulo: Cultrix, 2006.

DESCARTES, René. Discurso do Método / René Descartes; tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2008.

DESCARTES, René. Discurso do Método e Regras para Direção do Espírito; Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo : Martin Claret, 2001.

FILHO, Raul Landim. Pode o Cogito Ser Posto em Questão? Discurso. São Paulo. n.24 p.9-30.

GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia – Uma aventura na Filosofia. Editorial Presença, 1995.

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